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3 de junho de 2010

Capítulo 45: Na Idade Média- "perdão" mediante pagamento!

Na Idade Média, mediante pagamento, o perdão

Durante muito tempo, a Idade Média foi chamada de “Idade das Trevas”, nome que lhe foi dado no Renascimento, numa referência ao que era considerado, uma estagnação cultural, exprimindo a visão do mundo moderno que se formava. A efervescência do mundo romano foi substituída pelo imobilismo feudal e pela forte presença da igreja medieval. Os homens da Idade Média davam significados próprios as coisas de seu tempo e obtiveram algumas conquistas. O monopólio cultural da Igreja, somado à intensa religiosidade e a educação formal entrou em crise, restrita basicamente ao meio clerical. Durante o Período Merovíngio a Igreja manteve escolas episcopais para garantir a formação do clero, enquanto dentro dos mosteiros realizava-se a leitura e a cópia de documentos escritos e de alguns livros das civilizações grega e romana, além de, pouco mais tarde da árabe. Carlos Magno estimulou o ensino e a cultura, embora essa iniciativa não tenha tido continuidade após a sua morte.

O papa UrbanoO II, em 1095 com sede de glória e devoção religiosa, conclama a cristandade para uma Guerra Santa. Aos príncipes católicos foram prometidas recompensas celestiais e plenas indulgências papais. Regiões sagradas para os cristãos como o Santo Sepulcro, em Jerusalém, estavam sob domínio dos “infiéis” turcos muçulmanos. Lutar e morrer na Cidade Santa terrena lhes permitiria alcançar um lugar celestial. Esse fato aliado a outros interesses, como a cobiça do europeu de dominar estratégicas cidades do oriente e de conseguir produtos orientais, como especiarias. Desencadearam um sangrento conflito entre o ocidente e o oriente que durou 174 (ou 196) anos, as chamadas Cruzadas, num total de nove.

Nesse quadro não é de estranhar que o principal filósofo medieval tenha sido um religioso do Baixo Império Romano, preocupado principalmente com assuntos ligados à doutrina cristã. Santo Agostinho, estudou em Cartago e em Roma e foi um dos doutores da igreja responsável pela síntese entre a filosofia clássica e o cristianismo. Entre as suas obras encontram-se Confissões de Deus, inspirado no grego Platão. Dedicou-se a conhecer a essência humana e preocupou-se com o modo de alcançar a salvação da alma. Definia o homem como um ser corrompido, por ser herdeiro do pecado original. Em oposição a Deus, espiritual, perfeito, existia o homem imperfeito, feito de carne, impuro, mortal. Dessa forma a salvação, jamais seria obtida pelo homem, pecador, mas somente graças à intervenção divina, na medida em que Deus incluía o perdão entre os seus infinitos atributos. Ao homem restava apenas a fé silenciosa em Deus, e, conseqüentemente a obediência ao clero. Nas palavras de Agostinho, “a fé precede a razão”, ou seja , o conhecimento total de que Deus do presente, passado e futuro, faria do homem um ser predestinado, seja à salvação ou à condenação. Sustentou que os deuses pagãos existiam mas apenas como demônios e que a Terra tinha menos de seis mil anos. Criou a idéia louca e cruel de que almas de crianças não batizadas eram mandadas para o “limbo”. É possível imaginar a infelicidade que essa “teoria” doentia e mórbida representou para milhares de pais católicos ao longo dos anos , até a revisão parcial pela igreja, apenas em nossa época.
O relativo pessimismo de Agostinho era, em grande parte, reflexo das próprias condições materiais que presenciou, precárias em toda a Europa Medieval. Ele conviveu com guerras, invasões , testemunhando a decadência do Império Romano. Sua filosofia foi aceita por muitos dos que viveram tempos tão conturbados.
O filósofo, teólogo, bispo Agostinho, também afirmou que fazer sexo (esportivo e recreativo) era um pecado. A ser pago no inferno. Assim deu a humanidade e ao sexo um delicioso, maravilhoso atrativo extra para se tornar o esporte favorito da humanidade. Ficou célebre a sua frase, dita entre lençóis: “Deus, dá-me a castidade – mas não agora!.”
O casamento geralmente se realizava por conveniência masculina, não tendo relação com o amor. As mulheres e as crianças eram consideradas incapazes por grande parte dos homens. Até o final da Idade Média os cristãos combateram vigorosamente o perfil erótico e o símbolo da sedução feminina, o seio. Rechaçavam estátuas e pinturas de nus e, perseguiam até mesmo os seus autores (ao contrário dos religiosos hindus). O beijo quando proibido e perigoso: ainda melhor. Os beijoqueiros ao longo da Idade Média passaram a enfrentar uma crescente oposição da Igreja Cristã. Incomodado com a sensualidade do beijo e preocupado em eliminar esse símbolo, no século 12 o Papa Inocêncio III travaria uma verdadeira cruzada, contra o inimigo. Baniu-o dos ritos religiosos e de beijar os santos, os pés de Jesus (o frio e majestoso anel de um bispo – podia sim, mas sem deter a boca sobre a pedra valiosa) e proibindo-o na vida mundana.
“Beijo com objetivo de fornicação é pecado mortal, mesmo que a fornicação não se consuma”, dizia o édito de sua santidade. Tarde demais ! O beijo já fazia parte dos hábitos sociais e íntimos dos casais e todos continuaram beijando mais e melhor.

A arquitetura também refletiu a insegurança quanto a religiosidade. Os principais monumentos arquitetônicos do período, foram construídos, com a ajuda das doações dos burgueses (em troca de recompensa espiritual). Foram as igrejas e o estilo predominante foi o românico, caracterizado por grandes edifícios maciços com grossas paredes para sua sustentação e pequeno número de janelas. O interior da “Casa de Deus”, das igrejas românicas era escuro e frio, mas, com suas grossas paredes criavam uma impressão de proteção. O interior cheio de sombras, expressava uma perspectiva teológica: mais reflexão que ação, mais fé cega que razão na verdade perfeitamente adequadas para o homem da Idade Média agostiniana. Lembremos a propósito que as primitivas catedrais eram tão grandes que a população inteira das cidades que as construíam não bastava para enchê-las.
A pintura e a escultura evoluíram, estando porém sempre a serviço da Igreja. Os monges copistas ornamentavam os livros copiados com iluminuras e figuras decorativas em miniatura. A literatura pouco se destacou. A língua escrita era o latim. Poucos dominavam a leitura e as pessoas normalmente se comunicavam em outras variantes lingüísticas e dialetos como os de origem germânicas.
A ciência teve tímidos avanços. O isolamento, a insegurança e o monopólio cultural exercido pela igreja cada vez mais conservadora barravam o desenvolvimento de um pensamento crítico ou de uma mentalidade científica, contrapondo-se aos grandes avanços obtidos por bizantinos, durante o mesmo período, os quais se destacaram em astronomia, medicina, matemática e física. Agostinho afirmava que o Sol girava em torno da Terra. Nos séculos da crença cristã a palavra da Bíblia era incontestável e a letra sagrada.

Pode se afirmar que todas as expressões culturais medievais foram marcadas pelo predomínio religioso. Entretanto na Baixa Idade Média, as grandes transformações provocadas pela expansão comercial afetaram o monopólio cultural exercido pela Igreja. O crescimento do comércio e o contato cada vez mais intenso com outros povos, principalmente do Oriente, fizeram com que os homens europeus, adquirissem outros valores, deixando de subordinar por completo sua vida a uma “vontade divina”, não deixando imune nem mesmo o imaginário, quanto à crença na vida pós-morte.

No século XXII surgiu um terceiro lugar nesse além, ao lado do Céu e do Inferno: o Purgatório. Região intermediária destinada a desaparecer no Juízo Final, o ”Purgatório” era visto como um lugar transitório para aquelas almas que deviam purgar seus poucos “pecados” (veniais), antes de ir para o Céu. Atuantes, os clérigos poderiam obter vender o batismo, o funeral, “perdão” a preço de custo para certos defuntos mediante pagamento, o que estimulou um intenso comércio de “indulgências”, comercializado num tipo de pecúlio para quando se aposentassem um tipo de bolsa de valores para não irem para o inferno. Os cristãos investiam para não irem para o inferno, pois acreditavam em alma, demônio, anjos e acreditavam em milagres. A igreja rumava para um paganismo sem limites e os papas se tornaram os verdadeiros “Anticristos”.

Até o século XVIII, a igreja e as refinada cortes européias fomentaram a castração de meninos para conservar suas doces vozes angelicais. Quando eram realmente talentosos, os Castrati, como são chamados, destacavam-se no teatro e na ópera, onde alcançaram fama e fortuna. Tomando as palavras de São Paulo, segundo o qual “as mulheres devem se calar na igreja”. O papa Clemente VIII proibiu que as mulheres cantassem nos coros religiosos. As vozes graves não eram apreciadas e para que os registros vocais mais agudos fossem atingidos (admirados por parecerem mais puros e relacionados aos anjos), recorriam-se às vozes dos meninos castrados. A Igreja admitia em seus coros quem tivesse sido castrado “por males inevitáveis”.
A castração em si tornava-os estéreis e diminuía-lhes o desejo sexual, porém não impedia a ereção. O caso mais conhecido é o de Caffarelli, que quis se casar, o que era proibido pela Igreja. Em seu recurso pedindo permissão ao papa, esse conhecido e famoso cantor viu-se obrigado a argumentar, de maneira humilhante, que havia sido “mal castrado”. A resposta de Roma teria sido:

“Providencie, então, para que o castrem melhor”.

Outro papa chamado Clemente XII ficou famoso ao canonizar o Frade Voador - São José de Cupertino. Em um lindo em 1640, frei José passeava com outro monge pelos jardins, do convento de Santa Maria de la Grotella, quando seu companheiro comentou admirado sobre a beleza do céu, obra magnífica de Deus. Nesse momento, José deu um grito e, alçando vôo, pousou de joelhos na copa de uma oliveira, onde permaneceu durante meia hora. José, teria também ressuscitado um rebanho de ovelhas. Toda vez que entrava em êxtase contemplando a Virgem de la Grotella, seu corpo ficava suspenso no ar. Um século após a sua morte, foi canonizado pelo infalível papa Clemente XIII e hoje é considerado “santo” e patrono dos aviadores.

Com a dinâmica comercial, as cidades começaram a se transformar e a irradiar uma cultura cada vez mais menos vinculada aos valores da Igreja. Destacaram-se as Universidades com suas bibliotecas. Nesse período ocorreu a transformação das antigas escolas monásticas e das catedrais que desenvolviam o estudo de textos religiosos em centros de estudos inovadores, sob o predomínio da Igreja e da nobreza. As primeiras universidades surgiram em Paris, Coimbra, Oxford, Bolonha. Em 1500 já seriam mais de 70 as universidades européias, dando mostra de um verdadeiro renascimento da cultura laica.

O pensamento filosófico foi substituído pela Filosofia Escolástica (a fé e a razão), ensinada pela Igreja, considerada a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade, por assim dizer responsável pela unidade de toda a Europa, que comungava da mesma fé. Um conjunto de idéias que tem suas origens no pensamento de santo Tomás de Aquino, professor em Paris e autor de Suma Teológica. Inspirou-se em Aristóteles , desenvolvendo a tese de que o progresso humano não dependia apenas da vontade divina, mas também do esforço do homem. Assim o homem surgiria como um ser privilegiado, uma vez que, dotado de razão, estava preparado para assumir o seu destino. Aquino, buscava dessa forma, conciliar fé e razão, refutando a idéia agostiniana de predestinação. Como ser racional, o homem teria plenas condições de encontrar o caminho da salvação, evitando o pecado por meio da livre escolha, do livre-arbítrio. Escreveu um documento sobre a Trindade e, modestamente considerou o esforço como o mais bem sucedido, sem antes, porém, deixa-lo no altar da catedral, de maneira que o próprio Deus avaliasse a sua obra divina e a favorecesse com uma opinião.
Os seguidores de Aquino foram induzidos a uma terrível infelicidade, que disse:” Sou um homem de um só livro”, e “santo” Agostinho de Hipona, foram obrigados a desperdiçar as suas vidas, preocupando se, se seriam “eleitos” ou “escolhidos” no momento certo. Sem falar na perseguição aos judeus e o terror imposto a ciência. Tudo com um sadismo e crueldade incomparável, fé cega, coisa de doutrina pré-histórica.
Condicionava-se a liberdade de escolha às concepções eclesiásticas, ou seja, cabia ao clero indicar o correto e fazer a intermediação, através da igreja católica, do caminho da salvação a ser trilhado pelo homem em vida. Era possível subornar a Deus comprando a salvação. As boas obras confirmariam a salvação. Esse pensamento reprovava a ambição do ganho, o lucro e o empréstimo de dinheiro a juros (usura). Com a expansão da atividade comercial, muitos membros da Igreja, foram se mostrando tolerantes em relação a essa prática, embora perseguissem os não cristãos, isto é, os judeus, visto que a própria Igreja buscava o lucro e praticavam empréstimos a juros, ou seja a agiotagem, numa flagrante contradição com seu discurso.
A expansão das doutrinas protestantes gerou uma reação da igreja católica, e para reverter o quadro realizou a Contra-Reforma. Uma iniciativa foi a fundação da Companhia de Jesus, ordem religiosa criada por Ignácio de Loyola. Organizados em rígida hierarquia e disciplina quase militar, os “Soldados de Cristo”, buscaram combater o protestantismo por meio do ensino e da expansão da fé católica, derivando daí também o projeto da “catequese” indígena na América e demais continentes onde havia colônias européias.

Foi criado ainda o Index Librorum Proibitorum, lista dos livros proibidos cuja leitura era proibida aos católicos. Obras consideradas contrárias aos princípios da fé, incluindo livros científicos de Galileu Galilei, Giordano Bruno, entre outros, a bíblia protestante, edições de testos originais da Sagrada Escritura e inúmeros outros autores faziam parte dessa lista.
O papa ainda convocou o Concílio de Trento, se reunindo com teólogos protestantes para discutir a questão religiosa. Acabou apenas por reafirmar os princípios católicos, condenando o protestantismo, não conseguindo destruí-la, mas limitou a sua expansão. O sucesso mais duradouro do catolicismo se deu na América, onde iniciaram com a catequese dos jesuítas. A América Latina é o local de maior concentração de católicos no mundo.

Maquiavel (1469-1527), um bárbaro do século XI e XVI, autor de o “O Príncipe”, divulga a doutrina, para ser praticada por reis e imperadores. A doutrina da arte de matar com crueldade, pois ensinava que a guerra deveria ser a única arte de um governante se dedicar. Usando a força e brutalidade em vez da bondade, cobiçar, não honrar, fazer o mal, mas fingir que faz o bem e zelar somente pelos próprios interesses. “Na guerra, nada é honesto, tudo é belo”. Maquiavel, um mau exemplo para a humanidade em que muitos se inspiraram. Maquiavel, rejeitou a moral para que seu príncipe conquistasse um bem permanente pelas vias do mal passageiro, o famoso “os fins justificam os meios”.

No século XVI, com o Humanismo, começou um fenômeno que colocou o ser humano no centro do Universo. Virou o centro das atenções. Nas artes os pintores não assinavam as obras de arte e trabalhavam por devoção a Deus. A idéia era de que Deus decidia tudo e ninguém imaginava que poderia melhorar de vida e progredir por esforço próprio.

Com o Humanismo, a era da razão trouxe a crítica, o ser humano aos poucos virou o centro das atenções. Pinturas passaram a ser assinadas, assim como estudo do corpo humano com suas medidas. A idéia é de que quem determina o que é certo ou errado não é de Deus nem as tradições, mas as pessoas e sua capacidade individual de pensar.
Também surge com o Humanismo a idéia de que o ser humano pode trazer o céu à terra e o inglês Thomas Moore no livro "Utopia" descreve uma ilha em que tudo seria perfeito.

Os dois filósofos mais importantes do século XVII foram René Descartes e Spinoza. Eles dedicaram sua reflexão a questões tais como a relação entre alma e corpo.
Descartes, fundador da nova filosofia, dizia que não devemos confiar no que lemos em livros antigos e não podemos confiar sequer no que os nossos sentidos nos dizem. No livro "Discurso do Método", explica que não devemos considerar nada verdadeiro, enquanto nós mesmos não tivermos reconhecido claramente que se trata de algo verdadeiro. Cada pensamento deve ser “pesado e medido”. Ele afirma que nosso ponto de partida deve ser de duvidar de tudo para se chegar à certeza. Se ele duvidava , isso significa que ele pensava.
E se ele pensava, isso significava que ele era um ser pensante. Ou, como ele mesmo dizia: “Cogito, ergo sum”. Penso, logo, existo. Segundo o filosófo Descartes, a idéia de um Deus é, uma idéia inata, que nós é “plantada”, por assim dizer, no momento em que nascemos.

Com o Iluminismo, as descobertas científicas de Newton, Kepler e Galileu derrubaram a idéia de que o mundo era uma coisa pronta e ordenada por Deus.
O filósofo Immanuel Kant, com o livro "Crítica da Razão Pura", salienta que possível criar, iluminar-se, por meio da ciência e da razão. O ser humano passou a tentar a explicar o mundo e catalogá-lo, vêm daí os primeiros museus e disciplinas científicas.

Baruch Spinoza (1632 a 1677), filósofo holandês pertencia a comunidade judaica de Amsterdã, da onde foi excomungado por heresia. E tudo porque Spinoza criticava a religião oficial. Ele achava que os dogmas rígidos e os rituais vazios eram as únicas coisas que mantinham o cristianismo e o judaísmo vivos. Contestava o fato de que cada palavra da Bíblia fosse inspirada por Deus. Em sua ética ele pretendeu mostrar que a vida do homem é governada por força e pelas leis da natureza. Para ele, o homem precisa se libertar de seus sentimentos e sensações, para só então encontrar a paz e ser feliz.

Voltaire (1694-1778) – François Marie Arouet, é considerado um dos maiores pensadores franceses. Sofreu perseguições na França pelas críticas e ironias que dirigiu à realeza e à igreja. Em "Cartas Inglesas", ataca veementemente a religião.
Ao examinar, com olhos de historiador (filósofo), o Antigo Testamento, Voltaire assinala, a existência de relatos de fatos inverossímeis, fabulosos e impossíveis: a serpente falante, o dilúvio universal, a imagem de um povo inteiro andando num deserto durante quarenta anos. Ironiza o Pentateuco como se fossem verdades históricas. As histórias de Adão, de Moisés e da Terra Prometida são como consideramos as histórias de Teseu ou de Rômulo e Remo. Na verdade, nas mãos de Voltaire, a Bíblia perde sua qualidade de história santa. Josué invade e incendeia uma cidade que mal conhece e massacra os habitantes. Jefté quer imolar sua própria filha a Deus. Salomão, que inicia seu reino assassinando o irmão Adonias, tinha, segundo a leitura de Voltaire, setecentas mulheres e trezentas concubinas. Nenhuma pessoa sensata pode imaginar que Isaías ande nu no meio de Jerusalém, que Ezequiel tenha cortado a barba em três porções, que Jonas tenha ficado três dias no ventre de uma baleia, etc. Diz ele .

“Se lêssemos essas extravagâncias num dos livros que chamamos de profanos, jogaríamos fora o livro, com horror”.

Mas como se trata da Bíblia, não ousamos condenar o que simplesmente abominamos. É que os homens são loucos, e adoram extravagâncias e quimeras. Os textos bíblicos não possuem mais o privilégio de ser uma verdade cuja origem é sobrenatural. A história santa torna-se uma história humana, fundada sobre documentos, que ora são verdadeiros, ora são falsos, como todos os documentos históricos, e que desse modo, tornam-se suscetíveis de críticas.




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